segunda-feira, 8 de março de 2010

Cabeça-chata

A origem desse apelido se perde no tempo. Especula-se que se deve a isso ou aquilo. Na formação da cabeça necessariamente não é. Outros nordestinos e até povos de outros países têm o mesmo tipo de crânio.

O historiador Gustavo Barroso nos dá uma luz para a questão. Os milicianos cearenses que lutaram na época da Independência do Brasil, combatendo a tropa do major português Cunha Fidié que dominava o interior das províncias do Piauí e Maranhão, usavam gorros achatados enquanto os portugueses usavam barretes afunilados e pontudos. Por isso apelidaram os cearenses de cabeças-chatas.

Mas, cabeça-chata é a mãe!
Cearense ou cearaense?


O certo seria "cearaense" como paraense, piauiense etc. Mas, o cearense tem a sua própria gramática e acaba ficando do jeito que ele quer.


Assim, cearense entrou como o termo certo, no dicionário, para designar quem nasce no Ceará e estamos conversados.





O que significa Ceará?

Não se pode afirmar com precisão, mas a maioria dos historiadores emite opiniões semelhantes. Segundo José de Alencar, no Romance Iracema, o nome foi formado de: cemo (tupi) que significa cantar alto e de ará, uma pequena arara também denominada jandaia. Ceará seria então a terra onde a jandaia canta alto.
Teodoro Sampaio (autor de: O Tupi na Geografia Nacional) tem praticamente a mesma opinião só que traduz ará por papagaio o que em termos de tradução está certo, pois ará não é um termo tupi específico.


Terra da Luz

O Ceará é conhecido por Terra da Luz. Julgam que é devido ao seu intenso sol. Nada disso. Esse título foi dado por José do Patrocínio pelo fato da então província ter abolido a escravatura antes do Brasil. No dia 25 de março de l884, sem dar a menor "bola"a D.Pedro II, o Ceará libertou, definitivamente, os seus escravos.



Ceará-moleque

Trata-se de uma expressão criada pelo próprio cearense para explicar o seu jeito irreverente de ser. Um povo tão gozador, que já vaiou até o sol quando este teve a petulância de passar três dias sem aparecer! Afirmam que surgiu com Adolfo Caminha (1) no romance A Normalista, obra que descreve às irreverências, hipocrisias e molecagens do povo cearense. De fato, a palavra aparece neste trecho do livro:

"Estás vendo, menina? Lê isto aqui. E apontou com o dedo.
Eram uns versos de pé de viola que contavam o recente namoro do Zuza:

“A normalista do Trilho,
ex-irmã de caridade,
está caída pelo filho
dum titular da cidade.

O rapazola é galante
e usa flor na botoeira:
D. Juan feito estudante
a namorar uma freira...


Eis por que, caros leitores,
eu digo como o Bahia:
— Falem baixo, minhas flores,
Senão... a chibata chia!...”



Lídia achou graça na versalhada. Ela também já saíra na Matraca.
— Um desaforo, não achas? perguntou a normalista indignada.
— Que se há de fazer, minha filha? Ninguém está livre destas coisas no
Ceará-moleque. Não se pode conversar com um rapaz, porque não faltam
alcoviteiros. Olha, eu aposto em como isto que aqui está saiu da cachola do
Guedes".


(1) Adolfo Ferreira Caminha (Aracati, 29 de maio de 1867 — Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1897) Escritor cearense, um dos principais autores do Naturalismo no Brasil. Nasceu em Aracati Ceará, em 29 de maio de 1867. Ainda na infância foi para o Rio de Janeiro com a família. Entrou para a Marinha de Guerra, onde apesar de chegar a segundo-tenente, teve que dar baixa, forçada, por raptar a esposa de um alferes, com quem passou a viver.
Publicou, em 1893, o romance A Normalista, que mostrava um quadro pessimista da vida urbana de Fortaleza. Esteve nos Estados Unidos e, inspirado na viagem para este país, escreve: No País dos Ianques (1894). No entanto, somente firmou a sua reputação literária ao escrever Bom Crioulo, onde abordava, a questão da homossexualidade. Foi também um grande colaborador da imprensa carioca, em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio. Já tuberculoso, mal da época, lança o romance, Tentação, sua última obra (em 1896). Faleceu, prematuramente, no Rio de Janeiro, no dia 1º de janeiro de 1897, com apenas 29 anos.
Sua obra repleta de tragédias e descrições de crimes e perversões foi pouco apreciada, na época, sendo reconhecida somente tempos depois de sua morte

Um comentário:

  1. Essa versão para a expressão cabeça-chata, de fato, é citada por Gustavo Barroso em um artigo onde traz várias versões para essa questão, citando inclusive conclusões antropológicas e/ou cientificistas. Quando traz a versão baseada nas milícias cearenses, grandes responsáveis pela independência das províncias da região, enfatiza que é uma memória oral e que carece de confirmação através de outras fontes. Segue link da fonte onde é possível ter acesso à hemeroteca digitalizada de Gustavo Barroso: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=bibvirtmhn&pagfis=58030&pesq=

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